sexta-feira, novembro 24, 2017

Quem tem filhos tem sarilhos?


Estamos quase no final do primeiro período deste ano letivo de 2017/2018 e o balanço que posso fazer sobre a transição da minha filha de um colégio privado para uma escola pública está longe de ser positivo.
A verdade é que a transição da Madalena nesta fase –  coincidindo com uma série de outras mudanças na vida dela – teve um efeito de bola de neve. Não foi só o mudar de escola, ficar completamente desenraizada das referências dela habituais, das amigas, da professora e de toda a equipa que a acompanhava desde os 3 anos, coincidiu também com uma mudança estrutural na vida dela: a de passar a fazer custódia partilhada e semanas alternadas com o pai.
Tudo a começar ao mesmo tempo, em setembro, o que levou a uma mudança radical de hábitos, de rotinas e de processos. Se para um adulto isso já é difícil de gerir, imaginem para uma criança de 8 anos.
A Madalena foi colocada numa escola pública em Lisboa onde até tenho algumas pessoas amigas que têm lá os filhos e que me deram boas referências, me tranquilizaram no início e me disseram que a escola, dentro do ensino público, até funcionava bem. Isso deixou-me mais tranquila e aliviada, mas com o passar dos meses e com aquilo que me vou apercebendo, vejo que a minha filha anda perdida e regrediu. Foi colocada numa turma extra, só com crianças novas na escola, transferidas de outras escolas ou países. É uma turma pequena mas problemática, onde existe um grande número de rapazes (11) face ao número de raparigas (5), sendo os rapazes altamente conflituosos, com zaragatas na sala de aula e conflitos no recreio – tendo sido chamados por diversas vezes ao gabinete do diretor. A Madalena queixa-se que a professora grita bastante, ou que os rapazes estão sempre a armar confusão, além de ter poucas meninas para criar cumplicidade e aprofundar laços. E eu pergunto: faz sentido criar uma turma só com crianças novas? Não seria mais fácil, numa escola onde existem 4 turmas do 4º ano, inserir estas 16 crianças novas na escola, divididas em grupos de 5 ou 6 por turma, de forma a promover uma maior interação e integração? É preferível criar uma turma nova e ao mesmo tempo, dificultar ainda mais a integração destas crianças numa escola que lhes é totalmente nova e cheia de crianças que já lá andam há vários anos?
Na semana passada fui à escola reunir com a professora para falar sobre a Madalena. Vim de lá preocupada com o retrato feito e, em parte, com a confirmação daquilo que eu própria já sabia: que ela está alienada, que não tem interesse nos estudos, que não se empenha, que está numa mesa sozinha porque, caso contrário, passa a vida na conversa. Nada resulta ou parece resultar. Ao dar uma vista de olhos atenta pelos cadernos e livros dela, constatei que não tem um único apontamento de matéria, um sumário escrito, uma composição, nada de nada. Os cadernos também não obedecem a uma lógica. Não há um fio condutor, ora escreve uma linha na primeira página, ora outra a meio e outra no fim. Pelo meio, dezenas de páginas arrancadas e dezenas de  desenhos. Não é preciso ser-se psicólogo para avaliar este comportamento e o que o mesmo significa, certo? Na altura tive um choque, um misto de sentimentos, senti-me impotente e a falhar enquanto educadora e pessoa responsável pela sua formação. Chorei imenso, meio desnorteada e perdida entre pensamentos. A medida imediata foi cortar com os planos de fim-de-semana que incluíam uma série de diversões: ida ao zoo, ida ao teatro e centrar-se apenas nos estudos. Passou a tarde de sábado e domingo a fazer os trabalhos de casa – onde constatámos o quão fraca está – as dificuldades que tem nas coisas mais simples, no raciocínio e na lógica e os erros que dá a escrever. Erros básicos, que não se justificam num 4º ano. Foi aí que eu também constatei que, mais do que desinteressada, a minha filha – por muito que me custe admiti-lo – é, acima de tudo, preguiçosa. Não gosta de estudar e não se esforça. Faz as coisas depressa e mal porque quer é ‘despachar o assunto’. Não há brio bem empenho, não há dedicação. Há distração e erros derivados disso. Depois de termos passado o fim-de-semana a corrigir os trabalhos de casa - que estavam todos mal feitos - e a estudar com ela, fiz-lhe um ultimato: estamos a chegar ao final do primeiro período e os testes de avaliação são já para a semana. Todas as semanas quero que me traga os livros e os cadernos da escola para eu ver o que aprendeu e o que escreveu nos mesmos – e quero que se esforce e que dê mostras disso, seja nos cadernos, seja nas fichas que faz, seja nos exercícios que completa em livro – caso contrário, não há presentes de Natal para ninguém. (Até a mim me custou dizer isto, mas tenho de lhe meter medo privando-a das coisas que ela mais quer ou gosta).
Não sei se resultará, não sei se verei algum tipo de mudanças e também não sei se o que estou a fazer é o método mais correto ou a melhor forma… é apenas aquela que me parece mais correta para nós – que discutimos o assunto em família.

Espero que seja um “wake up call” e que, em conjunto, possamos motivá-la e ultrapassar isto. Mesmo que tenha de recorrer a ajuda externa. Até lá, vou tendo o coração apertadinho e lembrando-me do ditado que a minha mãe tantas vezes repetia e que eu só depois de ser mãe, compreendi em pleno: "Quem tem filhos tem sarilhos".

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